quinta-feira, 18 de novembro de 2010

              O mundo virtual 

    O homem está começando a perder o controle sobre toda essa tecnologia digital. Existem pessoas que já não conseguem diferenciar o mundo real do virtual. A  virtualidade passou a fazer parte da sociedade com tal força e influência que pode ser comparada a mesma influência que a energia elétrica fez na sociedade quando foi criada. Nada funciona na sociedade contemporânea sem energia elétrica, e o mesmo está acontecendo com o mundo virtual. No mercado econômico já se percebe esta necessidade e ligação. A sociedade contemporânea conseguirá ficar dominando a tecnologia digital, ou chegará um momento em que a virtualidade dominará o homem?           

Recordamos um pouco a história para que possamos entender o que é a tecnologia virtual para o ser humano. Sabe-se que o homem evoluiu na medida em que buscava algo para suprir suas necessidades. O desenvolvimento das civilizações e a evolução do processo comunicacional ocorrem juntamente, por ser a comunicação um processo social restrito do ser humano, e esse incapaz de sobreviver isolado. Afirmando essa ligação Antonio Hohlfeldt diz, que todo desenvolvimento depende de um eficiente sistema de comunicação para ser legitimado.           
 As principais fases da evolução da comunicação estão justamente nos apogeus da história das civilizações. Como exemplo temos a Grécia, que foi marcada pelos sofistas que deram origem aos principais filósofos da história humana. A Grécia conquistou um enorme respeito devido a sua cultura intelectual ateniense e militar espartana. Outro marco, foi a Revolução Industrial na França, que possibilitou a massificação da cultura a partir do momento em que a produção passou a ser em série. A partir de então as descobertas tecnológicas tornam-se cada vez mais visíveis e seqüentes, fazendo com que a modernidade possibilite ao homem a expansão e difusão das informações. As distâncias geográficas diminuem com a invenção da Internet. O globo terrestre torna-se uma só aldeia. O universo do homem torna-se uma imensa comunidade, como diz Hohlfeldt, na sua análise em seu texto “As origens antigas: a comunicação e as civilizações”.           
O século em que vivemos é marcado pela emergência constante de novas tecnologias de informação. A freqüência que essa evolução tem é tão grande, que em questão de meses as tecnologias inventadas passam a serem defasadas, devido ao surgimento de outras mais potentes e melhores. O que antes levava séculos para ser criado, hoje é substituído ou considerado defasado em meses por novas tecnologias. A televisão a cores substituiu a televisão preto e branco. O MP3 é mais barato porque já se tem o MP4 e o MP5 e assim por diante. As informações são transmitidas  em tempo real. O mercado de trabalho funciona através dessa virtualidade. O mundo virtual torna-se indispensável no dia-a-dia humano por ser muito prático, dinâmico e fácil. A frenética aplicabilidade virtual reflete diretamente na sociedade que hoje é mais liberal, aberta e flexível.          
  A Era digital, como também é conhecida nossa atualidade, traz ao homem a possibilidade da conexão ao mundo em tempo real, através da rede, sem precisar sair de sua casa. A virtualidade é fascinante aos olhos da sociedade. Através da Internet você pode estar em todos os lugares e conhecer tudo a respeito do mundo com alguns “cliks”. Quebra-se com todas as fronteiras geográficas. Para o mundo virtual o globo terrestre torna-se desterritorializado. O espaço virtual consegue mesclar todas as culturas. Surge então novos conceitos comociberespaço, cibercultura e cibermídia.           
O ciberespaço para Pierre Lévy é o “espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores” (LÉVY, 1999, p. 92). O autor defende a idéia de que o ciberespaço se tornará o “principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade” (LÉVY, 1999, p. 93) e de fato isso acontece. A virtualidade dominou as rotinas do homem. Hoje as práticas digitais são vistas em qualquer situação diária, temos o cartão de crédito que está ocupando o espaço que antes era dominado pelo dinheiro em papel, os filmes são elaborados com alta tecnologia digital que dão mais ficção aos efeitos das cenas, os celulares são na maioria digitais e aqueles que possuem sistema analógico estão sendo trocados por digitais pelas operadoras, os contatos e relacionamentos entre os humanos são cada vez mais comuns acontecerem virtualmente através de ferramentas como MSN, ICQ, e-mail, Orkut, Skype e tantas outras tecnologias. 
 o ciberespaço encoraja um estilo de relacionamento quase independente dos lugares geográficos (telecomunicação, telespresença) e da conincidência dos tempos (comunicação assíncrona). (…) a extensão do ciberespaço acompanha e acelera uma virtualização geral da economia e da sociedade. (LÉVY,1999, p. 49)  
A pós-modernidade conseguiu a multiplicidade e entrelaçamento radical das épocas em virtude da cibercultura. A cibercultura consegue ser uma maneira de expressão e comunicação pessoal para a sociedade, pois permite que todos com acesso a Internet, possam expressar suas idéias e criatividades de maneira que este conteúdo torne-se acessível para quem quiser e estiveronline.cibercultura baseia-se no princípio da “re-mixagem”, ou seja, é um “conjunto de práticas sociais e comunicacionais de combinações, colagens, cut-up de informação a partir das tecnologias digitais” (ARAUJO, 2006, pág 52. Texto de André LEMOS). Para entender um pouco melhor da cibercultura, é preciso conhecer sua estrutura, que segundo André Lemos, está formada por um tripé composto pela liberação do pólo de emissão, conexão em rede e reconfiguração de formatos midiáticos e práticas sociais. 
As vozes que se somam no ciberespaço representam grupos identificados com causas e comprometimentos comuns, a partir da diversidade de campos de interesse (educação, saúde, direitos humanos e trabalhistas, cidadania, minorias  e etnias, meio ambiente, ecologia, desenvolvimento sustentável, defesa do consumidor, cooperativismo, habitação, economia popular, reforma agrária, AIDS, sexualidade, crianças e adolescentes, religiões, combate à fome, emprego, comunicação e informação, arte e cultura), metodologias de atuação (movimentos autônomos ou redes), de horizontes estratégicos (curto, médio e longo prazos) e de raios de abrangência (internacional, nacional, regional ou local). Essas variáveis, muitas vezes, entrelaçam-se, fazendo convergir formas operativas e atividades. (MORAES, 2001, p. 126.)                
Moraes refere-se nesta passagem aos movimentos sociais na internet, mas podemos analisar no mesmo contexto que vínhamos trabalhando de cibercultura, pois a idéia principal de ambos é a interação e disseminação de idéias. Para Pierre Levy, a cibercultura pode ser considerada uma construção de laço social, onde existe uma relação humana desterritorializada, transversal e livre.            
Ao mesclarmos todas essas mídias digitais e os ambientes “cíbridos” obtemos a chamada cibermídia, que pode ser comparada a uma teia que possui vários caminhos e está envolvida por interfaces externas.
 …conjunto de mídias digitais em ambientes cíbridos fixos ou móveis, construídos pelo hardware e software, significando o computador fixo e todos os seus aplicativos e interfaces, incluindo a www e a Internet, os browsers de navegação e os CD_Roms e as interfaces externas, como telefonia celular móvel, as tecnologias wireless  e até mesmo os ciber centers e as lan houses. (ARAUJO, 2006, p.192)            
Todos esses termos partem de apenas um pressuposto, que o mundo estaria agora interligado através de uma rede, podendo ser comparado a um “rizoma”, como explica Denize Correa Araújo no seu texto “’Hipertrópole digital’: a cibermídia como cidade rizomática”, onde a tecnologia digital e a navegação crescem para todas as direções, sendo sistemas interativos.            
 Toda essa aplicabilidade virtual nos impossibilita de descrevê-la por completo por ser imensa. O recorte proposto é das influências da Internet na sociedade.Como já foi dito, a tecnologia digital reforçou a arte pós-moderna e essa radicalidade, possibilitou que todo indíviduo que tem posse ou contato com essa tecnologia, possa emitir e receber informações em tempo real. Com a Internet é possível então a máxima da emergência dos dicursos e idéias. A rede se configura  a partir do computador que mantém a idéia de conectividade generalizada e toda essa remodelagem ou remedição que se forma, pode ser considerada uma reconfiguração das práticas sociais, que não deixaram de existir, porém se modelam de acordo com essa nova idéia. A sociedade consegue hoje se expressar através da arte eletrônica, evitando crises de conservação. A total liberdade de expressão que ocorre na Internert é visível através dos blogs, por exemplo, que são formas de publicação de qualquer pessoa com qualquer caráter, possibilitando a formação de conceitos, a discussão de situações, a narração de fatos, servindo de saída para o surgimento de vozes com autenticidade sem inibição de cesuras. Outra forma de aplicabilidade são os podcasts, um sistema de difusão de conteúdos sonoros que surgiu em 2004, segundo Lemos. Os podcats permitem que o ouvinte vire produtor, difundindo o seu próprio rádio. Esta prática não terminará com o meio analógico, apenas é mais um formato disponível para os usuários.A Internet é o principal meio de formação de comunidades virtuais, ou seja, principal meio de reunir pessoas que possuem os mesmos gostos e estilos. O cibergoticismo é um exemplo desta prática. Conforme Adriana Amaral, que fez um estudo sobre esta forma de sociabilidade, onde se mistura a estética gótica e o estilo musical eletrônico, expressados na rede social MySpace, o cibergoticismo pode ser considerado a arte da assombração, pois faz ressurgir a cultura gótica da idade média mesclando o estilo musical electro-industrial.            
 As influências virtuais tornam-se imperceptíveis na sociedade contemporânea. Possuímos hoje um arcenal de informações volúveis que nos bombardeiam por todos os lados. As novas formas de acesso à essas informações nos garantem um poder de escolha maior, quando se tem acesso as ferramentas virtuais como a navegação e mecanismos de pesquisas na internet. As verdades lançadas por uma mídia agora são contestadas virtualmente por grupos opostos e de opiniões diferentes. Ao mesmo tempo que vamos obtendo as informações elas vão sendo engolidas sem passarem por um processo de reflexão, e isso provoca no ser humano o desenvolvimento de uma memória curta. O novo estilo de raciocínio em massa é cada vez mais volúvel. O conhecimento virtual pode ser supérfluo quando não se tem uma base científica formada. A objetividade dos documentos digitais, transforma tudo muito dinâmico e veloz, sem muito tempo para reflexões.O leque de conhecimento que está a nossa disposição é muito amplo e isso nos possibilita uma enorme variedade de conceitos e opiniões quanto aos fatos que estão ocorrendo, além da possibilidade de escolha conforme nosso interesse. Podemos, como foi dito antes, nos alimentar de informações dinamicamente e adquirir prós e contras acerca do fato, de forma mais transparente do que quando manipulado pela mídia televisiva ou impressa.A Internet também pode nos colocar em uma situação de risco enquanto estamos online, pois quando online ficamos vulneráveis a golpes, rackers, vírus, exposição de nossa imagem para uso indevido e inúmeros outros casos. Quantos de nós já não fomos vítimas de vírus?Ou quantos já não ouviram os casos de rackers que burlaram a segurança de um banco, conseguindo senhas e transferindo dinheiro para suas contas? Para piorar o quadro negativo da Internet, já existem estudos que buscam a comprovação de que a Internet pode ser um vício para as pessoas. Existem inúmeros registros de casos em que algumas pessoas ficam horas na frente do computador, navegando sem parar para comer e dormir, esquecendo da sua vida social, do seu contato com amigos, do seu relacionamento humano dentro da sociedade, de lado, esquecido. Geralmente os casos registrados foram com jovens e adolescentes. Uma discussão sobre este assunto foi postada recentemente no blog da turma, onde entre os depoimentos dados, o adolescente chegou a comparar a internet com droga.            
Então, voltamos a questão aberta logo no inicio da resenha, a sociedade contemporânea conseguirá ficar dominando a tecnologia digital, ou chegará um momento em que a virtualidade dominará o homem? Se não existir uma consciência por parte dos usuários desta tecnologia digital, as pessoas serão dominadas pelo mundo virtual sim, como já está acontecendo. Quanto à sociedade, ela já gira em torno da virtualidade, querendo ou não, a dominação desta tecnologia já tomou conta da contemporaneidade. A economia, política e cultura já estão funcionando conforme as funções virtuais. 

Cheila Araújo – Relações Públicas

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